O paradoxo reflete o âmago da vida cristã. O
bem que o cristão realiza, ele não o realiza porque seja forte, mas porque a
graça de Deus nele habita e o move: “Sem Mim nada podeis fazer”, dizia
Jesus (Jo 15,5). Quanto mais despojado de si ou de qualquer presunção, tanto
mais aberta está a criatura para ser vivificada pela graça de Deus. Isto não
quer dizer que nos podemos entregar à inércia, para deixar o Senhor agir em nós;
longe disto, Paulo se esforçava como o atleta no estádio para conseguir não uma
coroa perecível, mas uma coroa imperecível (1Cor 9,25-27). Apesar deste esforço,
o Apóstolo sentia sua incapacidade para fazer o bem que desejava (Rm 7,17-19) e
confiava no dom de Deus: “Infeliz de mim!... Graças sejam dadas a Deus por
Jesus Cristo Senhor nosso” (Rm 7,24s).
O paradoxo é incômodo a quem o experimenta.
Gostaríamos de ser os próprios autores ou artistas da nossa santificação. Na
verdade, porém, esta depende do Supremo Artista, que nos burila, poda e esculpe
na medida em que lhe abrimos espaço. Quanto mais despojado
de si, tanto mais aberto está o cristão para a graça de Deus.